ARTIGO
Agentes penitenciários, os heróis da resistência
Por: Carlos Vítolo
(Jornalista profissional com formação acadêmica, graduado em Comunicação Social – Bacharel em Jornalismo; formação em filosofia e doutorando em teologia. Assessor de imprensa do Sindasp-SP).
Resistir é preciso, pois, ao perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades e injustiças, também perdemos o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados. Rui Barbosa chegou ao ápice de tal pensamento ao afirmar que “o homem que não luta pelos seus direitos não merece viver”.
E não basta viver, é obrigatoriamente necessário viver e com dignidade. É essa falta de dignidade e de respeito por parte do governo para com os agentes de segurança penitenciária (ASP), que fez com que fosse deflagrada a greve geral no sistema penitenciário do Estado de São Paulo desde o último dia 10 de março.
Ao contrário da estratégia usada pelo governo ao tentar passar para a sociedade e a mídia que a greve é ilegal, todos sabemos que de fato ela é legítima. A greve representa o grito de uma categoria sufocada pela falta de diálogo do governo, que tem se mantido irredutível e tratado os agentes penitenciários com truculência e autoritarismo, se negando a dialogar e enviando a tropa de choque para deixar bem claro como é a forma que ele sabe negociar.
Essa forma de “diálogo” foi muito usada a partir de 31 de março de 1964, quando as práticas de repressão e de violência do Estado marcaram o período autoritário que instituiu a ditadura militar, e que este ano completam-se 50 anos dessa vergonhosa mancha na história do Brasil.
Parece que há quem sinta saudades dessa época ao enviar a tropa de choque para forçar a entrada em diversas unidades prisionais, inclusive, utilizando spray de pimenta contra os trabalhadores que colocam suas vidas em risco todos os dias para manterem a ordem e a segurança nos presídios, tendo como “arma” apenas uma chave e o corpo como escudo.
O governo poderia agir com mais inteligência, tendo em vista estamos em ano eleitoral e tudo isso certamente manchará sua campanha. Ao invés de agir com tamanho descaso e falta de diálogo, seria mais estratégico e inteligente se o governo fizesse uma reforma completa no sistema prisional, começando por oferecer condições de trabalho e salariais mais dignas aos agentes penitenciários. Essa é uma categoria de heróis que resistem bravamente, mesmo sendo esquecidos nos fundos das cadeias do Estado.
Antes de enviar a tropa de choque para forçar a entrada nas unidades prisionais, seria mais inteligente se o governo tratasse a categoria com o respeito que ela merece. Seria melhor que o Estado fosse mais eficiente e cumprisse sua função constitucional para que o sistema penitenciário não fosse o caos que é, com unidades superlotadas e falta de servidores.
Por fim, se já na segunda-feira o governo agir com inteligência e bom-senso, não será necessário gastar dinheiro público com spray de pimenta para calar a boca dos heróis da resistência, também conhecidos como agentes de segurança penitenciária. Fica a dica para o governo!
