Observei que as formigas andam para lá e para cá, como se estivessem desorientadas. Às vezes se encontram, porém não andam em grupo, sempre sozinhas. Observei ainda que este vai e vem tem um objetivo: procurar alimento para a colônia toda. Também percebi o quanto elas são unidas, organizadas e generosas.
Quando uma formiga encontra algo que sirva como alimento, a primeira atitude é tentar levá-lo para a colônia. Poderia, egoisticamente, se fartar com o alimento sozinha. Se tiver forças e suportar o peso, carrega-o sozinha para a colônia. Se o alimento é pesado demais, larga-o no local e busca ajuda. É dai que surge a união, a organização e a generosidade. Em pouco tempo as companheiras vão chegando, tantas quantas sejam necessárias. Em grupos, se revezam e, todas fazem a sua parte.
Assim, o objetivo é alcançado. O alimento é carregado e a colônia toda se beneficia. Uma ação coletiva ou individual com o propósito social. Tal fato me faz lembrar do lema dos Três Mosqueteiros: ‘um por todos, e todos por um’ e acrescentei: ‘todos por todos’. Este foi o maior ensinamento que as formigas me deram!
E, o que tem a Categoria com isso? Tudo! No cotidiano de uma Unidade as tarefas que exercemos têm semelhanças com a tarefa das formigas, ou pelo menos deveria ter.
Trabalhamos por um objetivo: levar alimentos para as nossas colônias (casas). Até ai há convergência. Agora vamos às diferenças: somos 22 mil homens (formigas) portanto, uma força imensurável que poderia transpor qualquer obstáculo e carregar grandes quantidades de ‘alimentos’ para nossas colônias.
E por que não conseguimos? Em meus 16 anos de trabalho, observo que a Categoria não tem a mesma união, organização e generosidade das formigas.
Todos sabem que existe um grande déficit de agentes que decorre da nossa falta de força e de pressão contra o governo. No entanto, apesar de sabermos que há déficit, por individualismo, egoísmo ou ‘beneficio’ pessoal, exercermos outras funções que não a nossa. Assim apesar do déficit, temos ainda 1/3 da Categoria desviada para funções burocráticas, administrativas entre outros.
Esse desvio apesar de aceito, às vezes, com resignação em nosso meio, se configura uma ilegalidade e imoralidade perversa contra a própria colônia (Categoria). Isso é facilmente percebido quando temos uma tarefa a realizar e que precisa de um grupo para concretizá-la.
Os desviados da função dizem: ‘eu trabalho de diarista não tenho nada com isso’ e os plantonistas ressaltam: ‘isto não é justo, nós é que estamos fazendo o trabalho todo, e eles ficam lá no ar condicionado’. Na mesma linha, temos o GIR/GAR, motoristas, canil, etc.
Desde logo deixo claro que não sou contra tais atividades, pelo contrario as vejo como atividades essenciais. O que busco demonstrar é como a nossa desorganização falta de generosidade e desunião nos é prejudicial.
Todos sabem que há GIR/GAR, canil, e ASP?s na função de motorista. Mas surge a pergunta que não quer se calar: há legalidade, contingente, equipamento e treinamento adequado para que façamos essas atividades? Lógico que não! Como também não tem contingente, treinamento e equipamento onde há legalidade de nossas atividades (nos turnos, áreas de seguranças e disciplina).
Na mesma linha fico imaginando as formigas se unindo a outros insetos, morando na casa das baratas, por exemplo.
Assim é nossa Categoria. Observo que há muitos que dizem ‘a culpa é dos sindicatos, são fracos, vivem brigando entre eles, etc…’. Ora, pergunto, quantos sindicatos dos Agentes de Segurança Penitenciaria (que realmente representam a Categoria) existem? Será por causa da falta de generosidade, organização ou união? Ou, todas juntas?
Sejamos claros, nossos objetivos são os mesmos, ou pelo menos deveriam ser. Somos da mesma espécie (ASP) e exercemos as mesmas atividades (ou deveríamos exercer). Por que então dizemos que os sindicatos não se entendem? Não deveríamos ter apenas um sindicato? Ele já não existe?
O que falta, na verdade, é assumirmos nosso lado formiga ‘um por todos, todos por um e todos por todos’. Temos tudo para, como as formigas, transpormos nossos obstáculos e conseguirmos melhorar nossa colônia. Para tanto, como elas, temos que fazer nosso esforço individual, ou seja, tentarmos levar aquilo que suportarmos sozinhos, porém, sempre em prol da colônia.
Quando não suportamos o peso, devemos nos unir aos nossos e, juntos, tantos quantos se fizerem necessários, levemos nosso alimento. Ter consciência coletiva é um exercício de generosidade.
Imaginemos se, como as formigas, nos agruparmos em uma instituição própria da Categoria, nos organizarmos e, definirmos que não mais exerceremos quaisquer atividades, a não ser aquelas a que a lei nos confere atribuição.
Podemos até andar sozinhos como as formigas, mas sejamos generosos, organizados e unidos para buscar nossos objetivos comuns, e alcançarmos o bem social e não benesses individuais.
Este é um dos sonhos de uma ‘formiguinha’ que acredita que o homem pode e deve ser generoso, organizado e unido em prol da sua ‘colônia’.
?UMA SÓ FORMIGA NÃO DÁ CONTA DA ROSEIRA, MAS DESFOLHA A MATA SE JUNTAR A FORMIGUEIRA?!
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(*) ROZALVO JOSÉ DA SILVA é Agente de Segurança Penitenciária e Secretário-geral do SINDASP ? Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo
Contato: rozalvo@sindasp.org.br