Morte de carcereiro em Osasco e explosão em Valparaíso pioraram a situação
Agentes penitenciários relatam ameaças dentro e fora dos presídios
O clima entre os agentes penitenciários é de medo. Os funcionários, que lidam diretamente com os presos, relatam ameaças dentro e fora dos presídios. Na manhã de terça-feira, dois casos ajudaram a escancarar o problema: um carcereiro ficou gravemente ferido após uma explosão em Valparaíso, no interior do Estado, e outro morreu com seis tiros em Osasco, na região metropolitana.
Agnaldo Barbosa Lima foi abordado quando saía de casa para trabalhar no CDP 2 (Centro de Detenção Provisória), de Osasco. Ele estava há dois meses trabalhando na unidade. Segundo amigos da vítima, o agente foi baleado pelas costas quando falava com a mulher ao celular. O tiro pegou na nuca, nenhum pertence foi roubado.
O R7 recebeu denúncias de agentes penitenciários se queixando de uma possível “perseguição do crime organizado”. Representantes da categoria reforçam a tese.
“Nós sempre fomos alvos”, afirma Ismael dos Santos, diretor do Sindasp (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo).
Segundo ele, os carcereiros sofrem retaliação sempre que ocorre alguma transferência de presos ou medida que “desagrade aos líderes das facções”.
— Apesar de o governo não nos reconhecer como polícia, o crime reconhece. E somos executados como tais. Qualquer represália, eles descontam nos funcionários das penitenciárias.
A categoria se diz vítima, inclusive, da lei que proíbe a revista íntima nos presídios.
— Só em Valparaíso, encontraram cinco quilos de pólvora. Imagine o que não existe por aí. Pólvora não é uma coisa que detector de metal pega.
Terror no litoral
Segundo o sindicato, os locais mais complicados para os funcionários das penitenciárias são a capital e a Baixada Santista. Foi no litoral, inclusive, que o diretor de segurança do CDP de Praia Grande, Charles Demetre, foi morto na porta de casa no fim de agosto. “Em uma semana, dois agentes foram mortos na Baixada Santista”, lembra Ismael.
Urina em agentes
Os agentes relataram que, também na manhã de terça, presos teriam jogado urina quente no rosto do diretor do CDP de Osasco.
João Alfredo de Oliveira, secretário geral do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo), diz que as ameaças e atentados acontecem para deixar os carcereiros amedrontados.
— Um agente acuado não consegue executar suas funções direito.
Para melhorar as condições de trabalho, João Alfredo diz que são necessárias novas unidades prisionais.
— Não dá para a gente ter penitenciária construída para 768 detentos funcionando com 2.000 presos.
Nesta terça, o R7 revelou que unidades prisionais do Estado abrigam até o triplo de presos do que deveriam.
A reportagem questionou a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) sobre as ameaças dos agentes e o episódio da urina no CDP de Osasco. Em nota, o órgão respondeu apenas que a unidade passou por revista e negou qualquer tumulto.
— A Secretaria da Administração Penitenciária informa que foi realizada revista geral em um dos raios do Centro de Detenção Provisória I de Osasco, com apoio do GIR (Grupo de Intervenção Rápida). Ao final do procedimento, será feito um balanço das apreensões realizadas. Trata-se de procedimento de rotina uma vez que a revista já estava agendada. A unidade opera dentro dos padrões de segurança e disciplina da SAP. Não está havendo nenhum tumulto na Unidade Penal.
Fonte: r7