Oito anos de trabalho de Anderson Gimenes, 30 anos, dentro do sistema prisional resultou em um livro de 288 páginas intitulado “Diário de um Agente de Segurança Penitenciária”. Em dezembro, a obra publicada pela editora Multifoco, do Rio de Janeiro foi lançada na internet e nesta sexta-feira, às 20h, ocorre a apresentação oficial no Centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente.
Segundo o autor, seu objetivo é único: mostrar à sociedade, a verdadeira realidade desse profissional do Estado, que não tem o devido valor que merece. “Para exemplificar, cito no livro a seguinte frase: ‘guardamos tudo aquilo que você não quer ao seu lado’. E também coloco que as mesmas pessoas que não os querem no meio, são as que muitas vezes os defende”, expõe Anderson.
O funcionário público estadual conta que a motivação para escrever esse livro surgiu após num dia de serviço no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Mauá, ouvir um preso cantarolando em um dos raios, um trecho da música dos Racionais, “Diário de um detento”, que diz “São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da manhã, aqui estou, mais um dia sob o olhar sanguinário do vigia”.
Ele diz que quando ouviu aquilo foi como passar um filme em sua mente da realidade que tantas pessoas vivem nas ruas. Mas, não dentro de um presídio. Conforme ele, a música retrata a realidade de sofrimento, de pessoas encarceradas jogadas à desgraça, mas ali, aquele preso que cantarolava estava recebendo suas três refeições por dia, na hora certa, com arroz, feijão, carnes, saladas, frutas, tinha tempo de lazer, e até direito a assistir TV.
“Ele não sofria, nem sofre, como dizia a letra da música. Na verdade nós é que sofremos. A sociedade em geral é que vive em desespero, presas dentro de suas próprias casas. Então, quando cheguei em casa comecei a escrever uma música sobre a verdadeira realidade do sistema prisional. Quando vi que a história chegou em um ápice, resolvi publicar… Foi aí que nasceu o livro que levou oito anos para ficar pronto”, conta o agente.
Vida restrita
Anderson narra no livro histórias reais que presenciou, experiências próprias e de outros. “Conto nele muito do meu sofrimento, em ficar longe da família, os riscos que corremos tanto dentro, quanto fora dos presídios… nós no exercício da profissão não somos vistos, a não ser o que a mídia transmite”, frisa.
Segundo Anderson, o sistema penal hoje não cria medo no marginal, e ele vê aquilo como normal. Uma penitenciária é uma casa para eles, de onde em segurança, de lá de dentro ele consegue administrar o crime.
“Infelizmente muitos presos têm mais direitos que civis. Eles têm hora para praticar esportes, finais de semana para receber visitas, incluindo íntima, cartas. Enfim, tendo todas essas regalias para que ficar na rua e correr riscos, ser perseguido e até morrer? Da metade do livro pra frente faço algumas críticas mais pontuais, como a citação de cartas de mães em agradecimento por ter tirado seus filhos das drogas”, pontua.
Anderson lamenta a desvalorização da função que ele e tantos outros homens e mulheres, solteiros, pais de família trabalham. “Temos que nos precaver todo o tempo a ponto de ter que esconder qual é a nossa profissão. Não podemos ir a qualquer lugar. Nossa função em finanças não condiz. No interior ainda é possível viver em melhores condições, pois o custo de vida é menor, mas em grandes centros a situação é triste”, destaca Anderson.
Serviço
AOS INTERESSADOS
O lançamento do livro de Anderson Gimenes, “Diário de um Agente de Segurança Penitenciária”, será na sexta-feira, às 20h, no Centro Cultural Matarazzo, na Rua Quintino Bocaiuva, 749, Vila Marcondes, Presidente Prudente.
Fonte: O Imparcial