Perseguições e ameaças a agentes aumentam após greve, diz sindicato

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“A gente sabe que está sendo monitorado”, conta o agente penitenciário Carlos Rufino, que também é diretor regional do sindicato da categoria. Segundo ele, os profissionais que trabalham no complexo penitenciário Campinas-Hortolândia estão sendo vítimas de ameaças frequentes desde que a categoria deflagrou greve na segunda-feira (20). O movimento foi encerrado no estado de São Paulo na sexta-feira (24).

 

O ato, que pedia melhores condições de trabalho, organizado pelo Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária de SP (Sindasp), ganhou força com a indignação dos profissionais após dois ataques, que terminaram com um agente assassinado e outro baleado nos dias 16 e 9 de julho, respectivamente. Rufino, que há 21 anos trabalha como agente, conta que colegas estão com medo de novos ataques.

 

“Temos vários relatos do fim de semana pra cá de companheiros que perceberam que estavam sendo seguidos, de câmeras filmando discretamente, moto passando várias vezes no mesmo local, nas residências ou na frente do complexo, passam devagar olhando”, denuncia.

 

Observados por ex-condenados
A tensão gerou pânico para dois agentes no segundo dia da greve. Um deles, que pediu para não ter a identidade revelada, contou ao G1 que estava fazendo um “bico” de segurança com outro colega quando percebeu que eles estavam sendo observados e chamou a polícia.

 

“Eu e um amigo de trabalho pegamos três ex-condenados observando nosso trabalho. A Polícia Militar e o Garra vieram no apoio.”

 

Na abordagem, nada foi encontrado com os suspeitos e eles foram liberados. À noite, no mesmo dia, os três acabaram presos por policiais do Batalhão de Ações Especiais da PM (Baep) com uma arma e dinheiro suspeito. Foram apontados pelos PMs como responsáveis por roubos. No entanto, novamente foram soltos após o pagamento de fiança.

 

O agente usa meios próprios, como arma e colete balístico que comprou por conta, para se proteger e não ficar tão vulnerável. “Sempre de colete, antes de sair observo a rua se não tem algo suspeito, mudo meu itinerário sempre que dá e andando com minha arma sempre pronta e de fácil acesso, caso precise”, conta.

 

Mais segurança
O diretor regional do sindicato disse que também tem tomado providências por conta própria para se prevenir. “Ao sair na rua, a gente está tendo cautela maior pra chegar em casa, pra ir para o trabalho. Estamos em estado de atenção redobrado”, diz Rufino.

 

O Sindasp informou que já fez pedidos por patrulhamento ostensivo no entorno do complexo penitenciário para garantir a segurança dos funcionários, mas sem retorno da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). Além disso, disse que o processo de renovação de porte de arma é lento, e pode chegar a sete meses.

 

Na sexta (24), a SAP disse, em nota, que solicitou à Polícia Militar um reforço no patrulhamento na área do complexo Campinas-Hortolândia, principalmente nos horários de entrada e saída dos servidores. Informou, ainda, que a secretaria também está em contato com os órgãos competentes para melhorar a iluminação pública ao entorno e está desenvolvendo planejamento para aperfeiçoar o sistema de monitoramento através de câmeras no local.

 

Apesar da denúncia sobre a demora para renovar o porte de armas dos agentes, a SAP informou que as cédulas de identidade funcional e a renovação para porte seguem no prazo normal, estipulado em até 40 dias.

 

O período inclui o recebimento dos documentos, conferências da documentação, avaliação do pedido pela comissão do porte de arma, confecção e o encaminhamento para as coordenadorias que, em seguida, repassa para as unidades prisionais, segundo a SAP.

 

Ataques investigados
O agente Rodrigo Barella foi morto após ter saído do Centro de Detenção Provisória de Campinas (SP), onde trabalhava há cerca de dois anos na área de enfermagem. O outro profissional baleado foi atingido por disparos quando chegava em casa em Hortolândia (SP). Os dois casos estão sendo investigados pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e pela Polícia Civil de Hortolândia, respectivamente.

 

Para Rufino, os ataques chamam a atenção porque os profissionais não lidavam diretamente com os presos.

 

“A gente acha que é um crime organizado querendo medir forças com o estado. Não houve nenhum mal-estar entre a população carcerária, nenhum fato que desencadeasse os ataques. Pegaram duas pessoas, um não tinha contato direto com presos porque era diretor dos agentes de vigilância penitenciária, e o outro trabalha na enfermaria”.

 

Após a morte do agente Barella, o complexo penitenciário paralisou os trabalhos por três dias, inclusive com suspensão das visitas de familiares e amigos no fim de semana. A greve teve início na sequência desses acontecimentos. No complexo, ela foi suspensa nesta sexta (24), mas as visitas permanecem canceladas até a próxima sexta (31), por questões de segurança.

 

Pressão gera afastamentos
O número de profissionais que são afastados por medo das ameaças, pânico e outros problemas de saúde gerados pela pressão do trabalho tem aumentado, segundo o diretor regional do sindicato. Para ele, a situação mais crítica na região é a da Penitenciária Feminina de Campinas.

 

“A gente tem medo que toda essa situação de tensão aumente mais ainda o número de afastamentos médicos. Tem unidades que a quantidade de afastamentos chega à metade do efetivo, como na penitenciária feminina de Campinas. Boa parte por conta de pânico, pelos relatos que chegam no sindicato”, afirma Rufino.

 

O G1 solicitou ao Departamento de Perícias Médicas de SP o número de profissionais afastados na região e no estado, mas não teve resposta.

 

Do G1

 

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